sábado, 27 de fevereiro de 2010

O meu jardim


                                                                                                                                                               Fotografia: António Ferreira



Tenho um Jardim onde quase todos os dias estou. É apenas um Jardim, mas para mim é mais do que isso, mais do que se vê e mais do que parece ser. É um Jardim estranho para quem o vê - costumam chamá-lo de Jardim Baguncento. A Razão pela qual o apelidam disso é porque tenho de tudo o que são flores e não-flores: Tulipas, Rosas Orquídeas, Violetas, Liliuns e também tenho tudo o que são ervas-daninhas. É estranho, mas também as trato com cuidado porque são parte de mim, porque como dentro de qualquer ser, estão contidas coisas boas e coisas más que são necessárias à vida.
Depois, mais para o centro do meu Belo Jardim, encontramos vários grupos de flores estranhas. São Raras essas, são incomuns e desconhecidas para os outros, mas para mim são como se as conhecesse desde que nasci. Nasceram todas assim que descobri o meu Jardim e cada vez tão maiores. São lindas e têm um aroma maravilhoso. Junto delas nasceram também várias ervas-daninhas, mas deixo-as lá, porque não estragam, apenas as fazem crescer mais. A essas flores chamo Família, Amigos e Deus. São nomes maravilhosos, é como se já soubesse o que lhes chamar. E elas gostaram, gostaram tanto que quando passo por elas, ficam viradas para mim como se tivessem olhos grandes e os fixassem em mim, penetrando a minha pele, a minha carne e descobrindo a minha essência. Sabem quase tudo de mim, quase porque eu também não me abro muito a elas, mas elas entendem e não ficam chateadas, porque eu as amo e elas a mim.
Mas depois, vêm o meu maior tesouro. Está mesmo no meio do Jardim, onde todas a luz bate, onde toda a água teima a escorrer. É uma flor linda, tem todas as cores e ao mesmo tempo não tem nenhuma, e às vezes ainda toma a cor preta, branca e até cinzenta. É esquisita, mas é perfeita. Perfeita nos meus olhos, mesmo não sabendo o que é o perfeito - penso que perfeito é algo celestial, angelical e divinal, mas são coisas que existem para lá dos humanos e da nossa compreensão. É enorme, simplesmente grande e completa, mas ao mesmo tempo parece sempre precisar de alguma coisa. Acho que sente algo de falta que já teve e agora precisa. É tão bela, tão mágica e tão... tão perigosa e venenosa. Pode ser a mais linda flor do meu Jardim, mas como qualquer flor, esta tem também os seus quês. Tem espinhos grossos e pontiagudos, o que torna impossível a simples tarefa de a tocar; são tão afiados os espinhos que até os olhos fere. Quando tento cheirá-la, rapidamente me tenho de afastar: longe, tem um aroma, um tom olfactivo fora do comum, até parece não existir. Atrai qualquer um para perto de si, mas quando se chegam, rapidamente liberta um veneno para repelir quem quer que seja, até mesmo Eu, o Seu Criador. Conheço-a tão bem como me conheço a mim, chego até a pensar que sou eu que estou ali, mas jamais permitiria ter espinhos e lançar veneno. Tal como ela me conhece a mim. Ela já me disse o seu nome, mas pediu-me para o guardar. Não fui eu que escolhi o nome, nem estava dentro de mim sequer - ela é que o decidiu e eu não reclamei sequer, porque o seu nome condizia com tudo aquilo que ela era, como se já estivesse pré-detalhado para se chamar assim. Pergunto-me como criei algo assim, majestoso e mortal, tal como as Sereias das histórias de encantar, que deliciavam os marinheiros e depois matavam-nos. Tu não matas, mas magoas. E pareces não te importar, pois tu alimentas-te da minha dor, do meu sofrimento e das minhas lágrimas. És egoísta, mas mesmo assim compreendes-me e quando sugas isso tudo, deixas-me feliz... Mas também me queres triste para poderes crescer e ficares maior. Até à tua volta criaste uma barreira de ervas-daninhas, para me dificultar a chegada até ti. Mas eu não desespero minha querida Flor, não porque aprendi que não se ama só dizendo, não se ama dando carinho ou não se ama dando afecto. O amor é todo o mesmo, mas expressa-se de forma diferente e é esse amor que eu demonstro, de maneiras diferentes, à minha maneira que te vai libertar das amarras que te escondem, vai-te retirar os espinhos e vai-te deixar toda só para mim, para eu te poder tocar mais uma vez, da mesma maneira que te tocava antes de te tornares fria e completamente independente de mim. Mentira, não és independente de mim, porque ainda necessitas de mim para te alimentar. E eu alimento-te todos os dias e também a minha esperança de te pegar pela tua raíz, e abraçar-te como se não houvesse um fim da vida. As outras plantas chamam-me louco e eu ignoro, simplesmente porque é isso que eu sou, à excepção de Deus, que me trata com carinho e dá-me o seu amor para eu o poder trazer até ti. Lembra-te, minha linda Flor, um dia chegarei a ti e vou-te abraçar e acariciar, vou-te tocar para te alimentares da minha alegria e alimentares-me tu disso. Irás até dar frutos e iremos dividi-los os dois, iremos dividi-los para outros poderem colhê-los e plantar depois as suas sementes. Quando eu morrer, morres também, mesmo que estejas aí sem mim para te tocar, sim, porque eu faço parte de ti e tu de mim. Lembra-te, eu sou tu e tu és eu, e há um nós que é nosso e é guardado dentro de mim e de ti. Só nós o sabemos e por isso o guardamos com carinho para mais tarde ser libertado. Espero por esse dia e lembra-te, eu vou conseguir, não por mim, não por ti minha Flor, mas por Nós.

Só por isto o meu Jardim já é lindo não é?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

(Possível) Futura Carta

(AGORA)
"Vejo-te em músicas; cada cara, cada corpo me fazem enlouquecer, pois vejo-te. Pergunto-me o porquê. Será das saudades que tenho tuas? Será pela falta que me fazes? Ou por ter estado habituado à tua companhia, a estares comigo todos os dias, em momentos só nossos?
Não consigo mais, não vejo a hora de tudo acabar... A hora, essa, será quando um de nós os dois morrer, eu ou tu. Um de nós tem que ficar aqui porque se formos juntos vamos voltar ao mesmo. Às vezes dou por mim a implorar para que nunca te tivesse conhecido, nunca tivesse te amado, nem sequer visto. Tudo para podermos ter vivido as nossas vidas em paz, sem confusões. O que me custa é ter de haver um fim, quando nem sequer me disseste adeus, quando nem sequer te despediste de mim. Sempre disseste para não chorar, para não ficar triste mas agora, é como se o quisesses e não soubesses, fá-lo inconscientemente e sem pensar, mas magoa, fere, arde e ainda esmaga.
Ao longo dos dias e das horas imagino-me novamente ao teu lado, como se Deus me tivesse dado uma segunda oportunidade para viver contigo. Sonho, mas pode não passar disso... Eu não sei, mas se sonhamos é para alguma coisa, talvez porque nós podemos ultrapassar barreiras às quais consideramos impossíveis. Será? Eu não sei, mas irei tentar, irei experimentar. (ainda sonho contigo)"

(DEPOIS)
"Vi o que não queria, tomei o gosto do que mais tinha medo e escondi-me em vez de lutar. Simplesmente, tinha medo de me tornar aquilo que muitos foram na tua vida - mais um. Imaginei ser diferente, mas acho que me iludi. Agora? Agora vivo comigo mesmo a caminhar por estradas que conhecia, mas que esqueci. Não sei mais quem sou, não sei mais aquilo que era e não sei naquilo que me irei tornar. Talvez, talvez acabe aqui com tudo, talvez ponha um fim no que não tem fim e me entregarei às areias do tempo. Não conseguiste segurar as minhas lágrimas quando eras tu, SIM, eras tu que dizias para não chorar e que estavas ali para mim. Não, estavas, não estás agora. Não estiveste mais. Mentiste-me enquanto eu fui verdadeiro para contigo, quando prometi que tudo era para sempre e ainda aqui estou, de pé, quase a morrer e a olhar para o passado. Cada lágrima faz transbordar a imensa de dor que por mim sai, tanta dor que faz com que seja impossível os outros estarem comigo, pois sofrem também. Tive que fugir porque não aguentei mais ver-te assim.
Anda tudo atrás de mim, eu sei, porque precisam de me encontrar, mas como é que se acha uma coisa que não quer ser encontrada? Não se encontra, apenas se espera que venha ter connosco - «Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha até Maomé». Será?
Esperei estes anos todos para encontrar a música que fosse eterna, para que, quando me for desta para melhor, ser recordada nos corações de todos. Encontrei, encontrei várias até e escolhi a que se calhar devia ter-te dito quando tive oportunidade mas não pude. Não me faltaram as palavras, elas é que escolheram não sair. Mas sem mais demora vou-te dizer o que diz uma das músicas, poucas palavras, mas são as suficientes:

"If you could have told me everything
You would have found what love is
If you could have told me what was on your mind
I would have shown you the way
Someday i'm gonna be older than you
I've never thought beyond that time
I've never imagined the pictures of that life
For now i will try to live for you and for me
I will try to live with love, with dreams
And forever with tears"

Passo a traduzir, pois sei que o teu inglês ainda é fraco:

"Se você tivesse me contado todas as coisas
Você teria sabido o que é o amor
Se você tivesse me dito o que estava em sua mente
Eu teria te mostrado o caminho
Um dia eu estarei mais velho do que você
Eu nunca havia pensado além desse dia
Eu nunca pensei nas imagens daquela vida
Por enquanto eu tentarei viver por você e por mim
Eu tentarei viver com amor, com sonhos
E eternamente com minhas lágrimas"


Agora sou mais velho, a morte já me chama, mas um dia verás isto, se já não tiveres partido, mas será a carta com as coisas que nunca te disse, mas agora vou ter que me repetir: Amo-te, amo-te, amo-te e amo-te, não pelo que fizemos, não pela falta que me fazes, mas por todos os defeitos e qualidades que tens. Se és boa pessoa? És, porque neste momento estás feliz e toda a gente sabe. Agora eu? Amo-te por tudo o que eras e não mostravas. Sou o que mais te ama e mais te amou, mas quero-te feliz.
Agora, se não te importas, quero que saibas mais uma coisa... Desisti de ti agora, pela primeira vez, mas quando receberes isto vais perceber o porquê de ter desistido. Obrigado, guardar-te-ei no meu coração. Agora sou eu que me despeço, adeus e sim, ainda sonho contigo"


(E assim, se atirou da ponte, soltando a última lágrima quando havia prometido a si mesmo nunca mais chorar... mas morreu, feliz, porque morreu tentando fazer o que queria)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Eu amo-te tanto e não sei como parar. Às vezes quero que acabe, quero pôr tudo isso para trás e conseguir seguir um caminho no qual tu não estás incluída; outras vezes quero apenas navegar por entre ti, voltar a descobrir tudo aquilo que já foi meu por direito.
Faltam-me as forças para gritar, faltam-me a impertinência para pedir mais. Cheguei ao cúmulo de dizer que não te amava mais e não te queria ver, falar nem tocar. Cheguei ao ponto de dizer que não sabia quem eras nem que respiravas sequer. Cheguei a esse ponto e enlouqueci: fiquei maluco, doente e insano na minha própria desgraça. Fiquei inquieto de tal forma que não sabia por onde parar, que caminhos pisava, não sabia o que queria e não entendia aquilo que me diziam. Entendi! O problema não era meu, teu ou de mais ninguém. A culpa designa-se apenas por uma palavra, o maior culpado de todos: o Amor. É isto que me leva à desgraça, que me leva a arrancar cabelos e a gritar tudo para fora, o que sinto neste momento, ou no que já senti, ou no que irei sentir.

E quanto a ti? Podes não ser a pessoa certa, mas prefiro enganar-me e pensar que sim. Porque até agora foste a única pessoa que amei e que amo. Poderei morrer agora, neste momento, neste instante. Pode-me faltar agora mesmo o ar e nunca mais respirar, mas se algum dia leres isto quero que saibas que te AMO e sim, por mais estranho que possa parecer, posso não ser o que está ao teu lado, mas sou o que mais te ama. Definitivamente, é um Amor Eterno.